Santa inveja do Lula
Então a segunda década do século vinte e um começou. Já estamos no quinto dia do ano e meus índices de popularidade andam nos piores níveis, desde a minha posse como cidadão desse mundo darwiniano. Apesar das abnegações, especialmente por parte daqueles que sentem algum tipo de discriminação na própria pele, continuamos habitando esse planeta como um bando de seres exclusivos. As exigências do clube dos “aceitos” são, cada vez mais, inatingíveis. Na verdade, só os hipócritas conseguem manter-se nele.
Não posso tratar aqui do momento que estou vivendo, por razões diversas, mas sobretudo porque esse tema afeta outras pessoas e imagino que algumas delas prefiram não ser expostas. Isso é meio paradoxal porque contraria a idéia geral de um blog, concebido para funcionar como um diário publicado. Às vezes ainda me arrependo por não fazer parte da rede como um personagem. Talvez isso me desse uma independência maior.
Esses dias de posse presidencial me levaram a alguns devaneios estranhos. Percebi que estava com inveja do Lula, ele mesmo o ex-presidente. Nós dois somos feios, mas ele consegue ser mais feio que eu, pelo menos em termos dos “padrões” de beleza mais aceitos. Ele é ainda mais velho que eu e todo mundo está careca de saber o quão ignorante ele é. Mal consegue dizer um pensamento sem assassinar a língua pátria em todos os quesitos. Não escreve uma linha sequer e assina devagar, como qualquer analfabeto. Não sabe nem ligar um computador e já disse algumas vezes que seu aparelho preferido é um bom rádio de pilhas, inclusive fez programa de rádio enquanto ocupou a presidência. Frequentemente, aparece suado, descabelado e mal vestido. Dizem que bebe a pampa e usa de xingamentos com freqüência muito além do permitido. Enfim, a lista dos senões dele é imensa e muito maior do que a minha.
Entretanto, este senhor chegou à presidência da república, esteve nela por longos oito anos, fez um dos mais demagógicos governos da história desse pais, usando e abusando dos programas assistencialistas e eleitoreiros. Claro, isso só foi possível porque ele contou com a complacência de um povo, na maioria, deseducado, despreparado, miserável, quase sub humano e uma boa vontade inigualável dos principais condutores de cultura (mídia, escola, igreja, governo, família) existentes. Com tudo isso e uma simpatia pessoal inexplicável, atingiu os mais elevados índices de popularidade desde que se faz essa medição.
As pessoas querem tocá-lo como queriam tocar a Jesus, na esperança de obter virtude. Os homens procuram abraçá-lo longamente e as mulheres extrapolam, indo dos abraços para as beijocas e se deixarem, sei lá… Há longos anos, estive em uma igreja, se a Memória não me trai, lá para os lados do ABC (D), era uma igreja grande e estava repleta. Fiz propaganda da Missão e seus propósitos escusos e depois preguei a tal Palavra de Deus. Depois das orações finais, fui para a frente da Igreja receber os cumprimentos. Uma atitude das pessoas me deixou perplexo, ela me pediam para dar autógrafos em suas bíblias. Foi o auge da minha popularidade, maior até do que meus tempos de grande jogador de handebol do meu colégio, quando alguns gatos pingados me idolatravam.
Sinto falta disso, confesso. Quando o Lula deixou a segurança falando sozinha e atravessou a rua para cair nos braços do povo, cheguei a odiá-lo. Para mim, aquilo chega ser inaceitável. Se pelo menos fosse um cara bonito, charmoso, alinhado, culto e bem articulado, vá lá. Mas era o seu Lula de sempre. Já andam dizendo por aí que ele deve voltar em 2014. Se está velho agora, imagine daqui a quatro anos. Enquanto eu, não estou cotado nem para cortar cana na semana que vem.
Uma cena de filme que não me sai da cabeça é uma que faz parte do filme “O Destino do Poseidon” quando o reverendo vivido pelo ator Gene Hackman salta para agarrar uma válvula d’água cujo fechamento possibilitará ao grupo de sobreviventes chegar ao local de saída do navio naufragado, mas que significa a morte para ele, pois não há como saltar de volta. Enquanto gira a válvula ele faz sua ultima oração perguntando a Deus o que mais Ele deseja? Já não bastaram todas as vidas perdidas até ali? Todos os sofrimentos vividos naquela jornada infernal? E Deus ainda estava requerendo sua própria vida, no seu entender.
Acho que estou me sentindo assim, agora, com inveja do Lula e me identificando com o reverendo Scoth do filme.
Vou anotar esse filme, parece interessante, mesmo vc já tendo contato o final hehehe
O Lula é feio e velho, mas ignorante não é não. Tanto que chegou onde chegou e fez o que tinha que fazer acumulando capital social de sobra. O bicho é muito esperto, mais esperto que todos os grutenses juntos (se bem que nossa esperteza chega a ser risível, senão não estaríamos na Gruta).
Mas digo esperto no bom sentido, porque para mim o Lula é bem intencionado. E digo sem nenhuma ironia. Eu de fato o admiro. Um homem com uma biografia dessa não merece menos que admiração.
Mas, como ele mesmo diz, a sorte lhe foi também foi muito generosa, coisa que não aconteceu conosco, ainda.
…é Lou,seu problema é mesmo a inveja…mas, admití-la,já é uma boa tentativa,né não?
Mas ainda assim não diria que ele é ignorante. Com certeza faz “ousadas asseverações sobre o que não entende”, mas isso é coisa de político em geral. Os resultados só mostram que ele aprendeu como o mundo funciona e tirou proveito, enquanto nós estamos tentando fazer do mundo o que acreditamos que ele deveria ser.
se puder venha conhecer o meu blog e ler algumas considerações que fiz!
Um abraço!
http://pensamentosduneto.blogspot.com/