Ritos e Ritual
“O objetivo das Disciplinas é o livramento da sufocante escravidão ao auto-interesse e ao medo”.
Richard Foster
Esta manhã, dizia a Dedé sobre o tamanho do meu orgulho. Somos brasileiros, a maioria de nós descende de imigrantes europeus ou asiáticos mais o resultado da miscigenação que inclui índios e negros. Essas são as cores determinantes do tom vermelho do nosso sangue. Nossa origem inclui histórias de pobreza e uma dureza danada no inicio de tudo. Mas, apesar disso, não desenvolvemos a humildade. Sou um exemplo cristalino dessa verdade.
Madre Tereza de Calcutá nasceu na Albânia e só chegou à Índia adulta para dirigir a pastoral da pobreza. Deu muito ao povo indiano, mas recebeu deles algo de valor inestimável: a humildade. Tornou-se famosa por estampar, em seus atos, todos os atributos dessa senhora rara. Nos tempos de sonho, quando ousei me imaginar missionário, planejei ir à Índia. Não me passava pela cabeça aprender nada com aquele povo exótico. Naquele tempo acreditava em tolices como a evangelização da humanidade e, para mim, aquela gente atrapalhava pacas.
Aos poucos, fui aprendendo sobre eles, a começar do Mahatma Gandhi e depois sobre a cultura, a estrutura social (As castas) as religiões até o Bhagavad Gitã e suas práticas intensas e constantes. Sem nunca ter ido às terras indianas mudei de opinião. A tal ponto que, certa vez, ao ouvir de um aluno, com imprudência suficiente para freqüentar minhas aulas de missões, sua intenção em exercer ministério naquelas paragens e pedir minha opinião sobre tal, disse-lhe: Não sei se temos algo a ensinar para aquele povo.
Não ter ido a Índia está me fazendo muita falta. Talvez esse seja o motivo para Deus brincar comigo a fim de quebrar meu orgulho. Coisas como mendigar, suportar humilhações, preterimentos, etc., são minha praia atual, e nada me faz mais infeliz. Bom, pelo menos, o magnânimo conseguiu me fazer admitir que sou mesmo um baita orgulhoso, agora , gostar da humildade ainda não deu, nos outros, tudo bem. Nem sei se ele faz bem em continuar com essa bobagem. Talvez seja uma causa perdida.
Entretanto, como o Pai de Jesus é suficientemente insistente e você eu sabemos disso, minha missão pastoral continua dentro do prazo de validade. A última de Deus é sua expressa determinação para os seus adeptos voltarem a praticar todos os rituais e ritos inclusos na senda cristã. A começar dos pessoais, tais como nos ensina o Foster (teve gente que não gostou de minha apologia ao livro, dias atrás) ou seja, meditação, oração, jejum, estudo, simplicidade, solitude, submissão, serviço, confissão, perdão, adoração, orientação e celebração, passando depois para o ritual e os ritos na igreja tais como a eucaristia (ceia), pregação, contribuição, batismo, casamento e a despedida.
Lembra o velhinho da passagem de seu filho pelo planeta e de como fez uso insistente dos ritos. Viveu uma vida em intensa prática deles, até na morte não se furtou em praticá-los. Subia aos montes para orar, isolava-se no deserto a meditar, era humilde, simples, generoso, perdoador e submisso. Nunca abandonou os ritos na igreja, onde festejava os dias e momentos santificados, sempre se destacando pela ousadia e submissão. Dizem que C. S. Lewis, durante anos, visitava a igrejinha local em dias de ceia a fim de praticá-la, embora o fizesse de maneira discretíssima.
Tudo isso tem um propósito muito alem de trazer o povo de volta a algum tipo de religião ou religiosidade. Deus quer nossa liberdade e, paradoxalmente, entende que ritual e ritos disciplinadamente são o caminho que nos livrará da escravidão propiciada por nosso desvio da dependência libertadora dele, como forma emergente e pós moderna.
Lou,você certamente conhece a história do “Apóstolo dos pés Sangrentos”,o sadu Sundar Singh.Como você aplicaria a vida que ele levou às suas palavras no Post,atendendo principalmente o último parágrafo?entendendo claro,que ele não viveu na nossa pós modernidade.
AVE!Depois passo aqui pra escrivinhar mais…
Sobre ritos, rituais, respeito aos idosos, alegria de viver, mesmo em dificuldades extremas, os indianos tem muito a ensinar.
Estou bebendo humildade, mas ela me incomoda no estômago. Nossa mãe, me arrepia pensar no retorno à eucaristia no fim das tardes de quinta, não por sentir menos, mas por senti-la diferente. Na verdade, eu queria de volta minha frágil ingenuidade de criança e adolescente, infestando o rito de espírito… Tenho medo do vazio, da frieza, da distância de quando eu voltar a frequentá-lo. Hoje, tenho medo de encontrar Deus ali, de encontrá-lo preso na autoridade do rito, na obsessão do gesto, na palavra proclamada e com endereço pretensamente certo. Sou orgulhoso demais para admitir que quem experimenta o sagrado ali possa experimentá-lo para além do rito…
Tô bebendo humildade.
Garçom, faz favor, traz mais uma dose…
Lou
Comentário nada a ver com o texto : tira esse escorpião porque cada vez que ele aparece o blog demora um tempão para carregar.
Nada contra o bicho que eu considero um exemplo de design sofisticado do Criador.
Ir a igreja, dizimar, ceiar, ter um pastor, afinal, sao apenas ritos ou ordens expressas de Jesus? Parece que estamos vivendos dias em que o certo e o errado se
entreleçamentrelaçam. Por que é tão difícil fazer a vontade do Pai?Gostei do Rondinelly,”tô bebendo humildade.”Será que tão vendendo de garrafa?
Ô Lou, voltando a falar no sadu, ou sadhu Sundar Singh, se lembra que ele foi convencido por um amigo inglês missionário, ou professor de seminário, coisa assim, a fazer ele mesmo o seminário? ele fez, mas no momento de ser ordenado pastor, percebendo que teria de ficar atrelado às missões ou à igreja, desistiu de ser ordenado, para poder levar o evangelho de Jesus(na verdade Seu amor) a seu povo e a outros povos também.
Escolheu viver livre, teve uma vida verdadeiramente apostolar.
Certamente ele praticou os ritos e rituais pessoais, mas os
mesmosritos com relação à igreja, pela história, nos parece impossível.Agora, pergunto a você: como é que fica essa gente como ele, alguns de quem nem ouvimos falar, que andaram mundo afora, e ainda andam nesses nossos dias, sem nenhum contato com igrejas pelas contingências?
“Celebração da Disciplina”, tá todo mundo lendo. Alguns já leram tempos atrás. Parece que tem coisa que vira moda. Como disse você: “A última de Deus é sua expressa determinação para os seus adeptos voltarem a praticar todos os rituais e ritos inclusos na senda cristã”.
Pra ser sincera,falo por mim, quanto aos ritos pessoais, creio que sejam normalmente praticados pelos cristãos, na questão do jejum, sou mais Isaías 58.
Agora, quanto aos ritos da igreja, grande parte da cristandade hoje, tem dificuldade em relação a instituição.
Como é que fica?
Eu sou suspeita pra falar desse assunto porque sou deveras litúrgica, inclusive estendo a liturgia para a vida, como vou explicar, eu ritualizo bastante a vida. Preciso disso. Utilizo também de alguns ritos internos, só meus, que satisfazem minha necessidade de mostrar de alguma forma concreta que estou em conexão com o Divino. Desespero, talvez, de alguém que ainda não tem olhos para ver o invisível. Eu me considero uma deficiente espiritual, por isso preciso de muletas, é assim que vejo os meus ritos. Um dia, talvez, não precise mais, quando estiver totalmente integrada com Ele, a ponto de nem precisar invocá-lo mais.
“Não sei se temos algo a ensinar para aquele povo.” Era o que esbravejava, espumando, o Schopenhauer.
Se Deus cismar em “trabalhar” com meu orgulho, estou…
A volta da Bete tá sendo espetacular.
Lou, o texto diz tudo, sua missão pastoral continua dentro do prazo de validade. Eu não pratico esses rituais ja faz algun tempo e não sei se praticarei num futuro proximo. Em certas condições o orgulho me ajuda na vida. Acho que sou mais discipulo de Nietzsche do que do Pai de Jesus.
Um abraço.
Ouvi uma vez uma cristão católico,dizer “que a instituição mata o Cristo”.Pensar nessa igreja formal que está posta,é pensar em institucionalização.Creio eu,que haja diferença entre instituição e institucionalização.
Existem alguns movimentos hoje,que celebram os ritos e rituais,mas não são necessáriamente igrejas nos padrões ou moldes estabelecidos há séculos.Acho que
hipotéticamente, levando a sério o seu Post, teríamos que pensar em algo parecido.
Sim.E por quê,não?Ou talvez o pessoal da Blogosfera, que já se acostumou há algum tempo estar meio fora da igreja intitucionalizada,possa estar encontrando um modo de “congregar-se” como igreja/comunidade,”que busque desesperadamente seguir os preceitos de Deus,sem proselitismo,sem endossar os desvios já existentes e sem perder a prática engrandecedora da vida cristã,uma vez que a igreja formal atrapalhe tanto…”
Não seria o “emergente e pós-moderno” somente um instrumento para validar o argumento dos rituais? Não vejo em qual sentido podem ser bons ritos e rituais dos quais nada se pode extrair. E ao contrário do que a Jacira pensa, creio que só há igreja porque há ritos.
Oi, Rap, você não me entendeu. Eu estava pensando exatamente na posição e colocação do Lou dentro do Post. Raciocinando DENTRO DA PROPOSTA DELE, uma vez que a igreja formal, hoje, como ele mesmo disse, e todos nós sabemos, tras desvios e atrapalhos, a igreja emergente se faz necessária para a celebração dos rituais e ritos. Falei da igreja estabelecida há seculos, mas me esqueci de citar também as igrejas que são covis de mercadores, etc…
É isso né Lou? Com muita humildade.
Não sei se entendi tudo o que você falou,porém, não sou a favor da política do governo, com relação à coibição das drogas em geral.
Fim da oração? existe algum movimento cristão que não valorize mais a oração? sou ignorante a esse respeito.Também não concordo com uma igreja materialista e triunfalista, que nada mais é do que a que prega a Teologia da prosperidade.
Engatinhar no palco eu já vi em vídeo do You Tube, uma lástima(rsss).
Entendi o que você falou, a sessão catalítica, antes da pregação (pregação?)
Concordo com você, beber com moderação.
Em suas últimas sete frases, tenho consciência de que estou precisando de todas essas coisas mais e mais.
Liberdade para servir. Eloqüente. E servir com todo o ser. Saudades do teu blog. Amplexo.
Ele gostava de contradizer!