Teologia Brasileira
Tempos atrás, participei de um encontro da SETE, braço da SEPAL voltado aos seminaristas. Meu papel foi dirigir um workshop sobre entidades cristãs voltadas ao social.
Como preletor principal, trabalhou o Julio Zabatiero e o tema dele foi “O reino de Deus”. Ainda tenho comigo o esboço dessas palestras. Lembro-me das intensas citações a George Eldon Ladd. Por causa delas, adquiri dois livros ótimos “The Gospel of the Kingdom” e “The Presence of the Future” desse autor e sem tradução em português (que eu saiba). Também foram citados vários teólogos latinos ligados à teologia da libertação.
Uma afirmação do Julio me incomoda até hoje. Disse ele, lá pelas tantas, não existir uma teologia brasileira. Mesmo a participação de teólogos brasileiros na teologia da libertação não supriu essa lacuna, pois a teologia da libertação era latina hispânica e, nesse universo, nós sofríamos certa marginalização, por não sermos hispânicos.
Sempre desconfiei desse negócio dos rotulamentos. Eu já existia quando criaram o Terceiro mundo. Antes disso éramos muito mais prósperos. Vivíamos em um país onde as pessoas recebiam um pagamento honesto por uma jornada de trabalho honesta. Quem sustentava a família era o pai. As mulheres eram femininas e gostavam do papel maternal a elas dedicado.
Nesse sentido, a teologia da libertação contribuiu para ratificar nossa condição de terceiro mundistas. Fomos nivelados às nações hispânicas socialmente subdesenvolvidas como a Bolívia, o Paraguai, Equador, Peru, Venezuela, Colômbia, Guatemala, El Salvador, Nicarágua, etc. Também jogaram nesse saco países hispânicos bem estruturados e desenvolvidos como Argentina, Chile e Uruguai, que assim, decaíram e aproximaram-se dos outros.
Enfim, nos convenceram ou condenaram ao limbo, no bando dos miseráveis e nós aceitamos isso.
Mais tarde, fomos considerados como um dos países em desenvolvimento, quando descobriram que éramos a oitava economia do mundo e trataram de liquidar com ela, com a ajuda dos nossos governos omissos e subservientes aos interesses internacionais.
Mas, em meio a tudo isso, volta a questão da teologia e percebo não haver, de nossa parte, nenhuma contribuição relevante.
A Igreja cristã não católica no Brasil mantém-se à margem ou, pior, une-se à escória. Não sabemos em que cremos. Quem é Deus, Jesus Cristo, a Igreja, a salvação, o espírito, a família, o homem para nós. Em que nós cristãos brasileiros pensamos e acreditamos? Minha sensação é de sermos um povo a repetir as bobagens ensinadas pelos neo-teólogos norte-americanos. Não nos damos conta para onde essas boçalidades estão nos levando ou já nos levaram.
Nós aceitamos isso e a mediocridade latina porque não tínhamos nada. Max Weber já tinha demonstrado que a riqueza se processou na esteira do protestantismo calvinista e a pobreza na esteira do catolicismo. Deixamo-nos levar por esses ventos. Passamos a acreditar em um cristianismo não reformado e pré-luterano, ensinado pelos missionários norte-americanos e hispânicos dissidentes da teologia calvinista.
Não temos a teologia calvinista e não temos nada, na verdade. Qual a diferença feita pela Igreja cristã nessa mudança que nos transformou em povo do terceiro mundo? Estamos pobres, em todos os sentidos, porque nossas crenças são frouxas e nos torna subservientes.
Estamos dividindo nossa espiritualidade e riqueza (os restos que não são pagos aos países ricos em forma de juros e diferenças monetárias) entre indivíduos, ao invés de dividirmos entre as famílias.
Pusemos a mulher e os jovens no mercado de trabalho e desempregamos os pais e maridos. Por quê? Primeiro porque os comunistas foram mais rápidos do que os cristãos, via Teologia da Libertação e, depois, porque passamos a crer na teologia da prosperidade, cura interior, células, propósitos e todas essas heresias grotescas. Deus não é mais deus da Igreja e da família, do pai, da mãe, dos filhos. Deus agora é deus do indivíduo. Assim nos ensinam Rick Warren, Kennet Hagin, Beny Hinn, Morris Cerulo, Edir Macedo, Cesar Castelanos, Estevan Hernandes e esposa e seus seguidores.
Talvez Barth tenha razão e o inferno seja aqui e agora. Reino de Deus é que não é. Ah! Mas um dia eu morrerei. Então, irei para o céu e lá conhecerei o verdadeiro Reino de Deus. Já sabemos qual é a resposta a essa bobagem. Quero ser como um Neemias aqui e agora. Quero construir o muro já. Não quero andar dizendo que estou cheio do espírito quando meu íntimo está vazio. Quero o Reino de Deus já e aqui, no Brasil.
Caso contrário, contratarei um coiote e imigrarei para os EUA ou Inglaterra “The Holy Land where ‘In God we trust’”.
Eu sabia que ias reabrir a Gruta.
:)))
Um dias destes, tens que contar aqui as verdadeiras razões (resumidamente) da tua passagem da teologia do Maná (Tadeu) para a teologia da Gruta (Lou). Fica o desafio.
Abraços fortes.
Este post antigo tem relação com o que o Nagel postou uns dias atrás? (http://gustavonagel.blogspot.com/)
Porque tem tudo a ver, muito bom, por sinal.
Abraços
Jorge
MInha participação na Igreja Maná foi uma nuvem passageira, um hiato. Minha Igreja de origem se uniu com ela e eu estava no pacote. Enquanto fiquei lá, meu trabalho era em informática e processamento de dados. Mas era marginalizado porque achavam (corretamente) que eu não estava no mesmo espírito. Nunca cheguei a engolir aquilo. Quanto ao blog, minha decisão, de caráter pessoal, diz respeito a continuar escrevendo diariamente no blog. Como você sabe, esse exercício requer tempo e dedicação. É preciso ler (mais do que as leituras eventuais), estudar os assuntos que rolam, ler outros Blogs e sobre o que estão falando, cuidar do layout, do provedor, comentar, comentar, comentar, acompanhar o andamento (visitas e comentários), responder comentários com carinho, entrar em confusões, etc…
Mas, em experiência anterior, havia aprendido que um Blog aberto não deve ser fechado. Deve ficar para referência e consulta.
O mais importante: Não fui o iniciador da Gruta. Só comecei um Blog enfatizando a idéia, bem velha e bíblica. Creio ter conseguido lembrar a todos do detalhe. Por aqui já está sendo comum ouvir expressões “entrar na Gruta e sair da Gruta”. Fico feliz, muito.
Mas, tenho um projeto que pretendo tirar da gaveta (até tentei, mas faltou competência $$$). Ai, talvez consiga direcionar o Blog todo para um domínio próprio. Vamos ver se o divino colabora e a coisa sai.
Mas, agradeço sua preocupação, apoio e incentivo.
Por enquanto, vamos ressuscitando alguns posts lá do início que a maioria não teve oportunidade de conhecer.
Fique em paz com o Senhor. Abraços
Rubinho
De fato, o post tem a ver com o texto desse senhor citado. Salvo engano, não precisarei discorrer as imensas diferenças de opinião entre nós (eu e ele). Fui colega do Julinho na FTBSP e sinto por ele andar meio esquecido por ai, ou restrito a certo gueto. Era a mente mais brilhante do nosso grupo, na época.
A tese da Teologia Brasileira é ótima, mas difícil de emplacar. Especialmente devido a esses imbecis que teimam em defender nossa posição de eternos subalternos, até nisso. Eu e você deveríamos calar nossas bocas no que se refere a criticar condutas norte-americanas e européias posto que andamos por lá e aprendemos coisas deles. Que bobagem. Juro que pensei em pegar os livros do Bonhoffer e jogar no lixo, afinal ele morou, estudou e lecionou nos Estados Unidos, para citar um exemplo.
Vou continuar pregando essa idéia no deserto e mandar gravar na lápide do meu túmulo a frase: “Escrevam uma teologia brasileira.”
Jorge
Desafio aceito.
Uma teologia que desdemonize o legado afro-brasileiro e que crie uma nova liturgia em nossas congregações, para que deixemos de usar roupas sisudas e passemos a reunir-nos mais à vontade, de chinelo, bermuda e camiseta. Afinal, estamos num país tropical! Que passemos a compor músicas que expressem nossa brasilidade. Que a ordem do culto privilegie a autenticidade e não a hipocrisia. Que possamos agir mais levemente. Que haja mais cores, mais flores, mais verde. Que haja calor humano, abraços e beijos.
Dá uma manifesto…
“In the US Army we trust”