Evangelização Compulsória
Tempos atrás, tinha um negócio chamado evangelização. Era engraçado, geralmente, tratava-se de uma visita a outra igreja onde, supõe-se, todo mundo já era evangelizado.
Então fomos (pessoal jovem de minha igreja) a São Bernardo do Campo, cidade adotada pelo atual presidente, originário de Garanhús Pe, no auditório do Paço Municipal da cidade, que se encheu com o povo da igreja promotora e da nossa.
Como sempre, coube ao convidado a honra de trazer a palavra (como se dizia a pregação, naquele tempo), no caso, nosso pastor, o grande Tio Cássio.
No final o grande apelo e o Tio era daqueles pastores que não descansava se não conseguisse arrancar, pelo menos, alguns gatos pingados das garras do morfeu. Se não vinha para converter-se, vinha para reconsagrar-se, um jeito inventado naquele tempo para melhorar as estatísticas convertedoras de cada pregador ou, até mesmo, sob a ameaça do cara correr o risco de morrer atropelado na saída daquele culto e sem Jesus para livrar-lhe a cara de suas traquinagens. Naquela noite não foi diferente, no fim pescamos alguns trouxas.
Então veio a parte final, quando o pessoal das duas igrejas pega as vítimas e ministra as primeiras informações sobre a nova vida, basicamente dizíamos para eles lerem a bíblia, orar, parar de furmar, de beber e de mentir. Entregávamos um folheto e orávamos pelo infeliz.
Nesse rolo, um jovem da outra igreja aproximou-se de mim e começou o serviço sem perguntar se eu era isso ou aquilo. No inicio pensei em dar-lhe uma boa lição teológica, mas alguém invisível ao meu lado soprou algo mais perverso em minha orelha: por que não divertir-se um pouco? Deixei o neófito falar, fiz perguntas tolas que ele prontamente respondeu tolamente, sem deixar de atravessar a norma culta umas seiscentas vezes, para não citar os furos bíblicos, acho que ele acabou com Lutero, Calvino e Gondim, de uma só enchadada. Perplexo, não me dei conta de que o olhava fixamente, com aquela cara de goiaba mordida que me é peculiar.
Como estava na hora de partir, e a chave da nossa Kombi estava comigo, bem como o dever de pilotá-la de volta à casa do Senhor, ao som de hinos e corinhos entoados pelos passageiros, uma irmazinha aproximou-se, pediu licença dizendo: Lou, desculpe, sei que você está evangelizando esse rapaz, mas está ficando tarde e precisamos ir. Ore logo por ele e vamos, disse bem brava. Não perdi tempo, impus as mãos na cabeça do idiota, sem dar-lhe qualquer chance de reação e orei. Depois do amém, virei as costas e saí rápido dali, sem arriscar uma única olhadela para trás.
Thiago Vieira12th September, 2008 as 12:55 am
HAHAHA
Eu queria estar naquela hora, naquele lugar, com a cabeça que eu tenho hoje em dia para poder rir com a situação. Mesmo que tenha sido um bocado pretensiosa.
Também já fui “jocumeiro” por bom tempo, achando que só se salva quem não lê revistas socialistas ou não tem dúvidas sobre a fé, falando jargões escabrosos e seguindo o rumo tosco de pensamentos que a gente se vê enrolado pelas pessoas que se dizem cristãs, ou melhor, protestantes.
Se for colocar no papel, já matei inúmeras vezes Lutero, Calvino, Gondim, C.S. Lewis e tantos outros. Mais vezes ainda, Jesus. Uma vez pela redenção e tantas outras por negá-la aos outros.
Pois é, a pergunta é por que fazíamos essas coisas? Lembro das minhas dúvidas sobre tudo aquilo e nem assim, deixei de fazê-las. Que vergonha!
wander12th September, 2008 as 9:23 am
Quando éramos crianças, agiamos como crianças..
Hoje somos adultos, agindo como crianças..
Abraço lou
Bruna12th September, 2008 as 10:16 am
Nossa Lou! que maldade.. rs.
Não pude segurar meu riso!
Crentes, tem mania de pretenção!!!
Mania maldita…