A vida na Gruta
Geralmente, ficamos sentados sobre alguma rocha, segurando o queixo com as duas mãos, olhos voltados para o chão e sem nenhuma vontade de conversar, nem mesmo se a Marisa Tomei ou o Warren Buffer pintassem no pedaço. Não estou falando por mim, apenas, mas por todos os grutenses.
Nessas horas, sinto uma inveja milenar de Elias. Afinal, para ele, Deus apareceu, mesmo que tenha sido através do silêncio. Para mim, pouco importaria, no barulho, no silêncio, desde que o divino aparecesse e me consolasse. Se bem que meu consolo não seria nada fácil. Às vezes, penso que Deus sumiu porque a encrenca aqui é demais para Ele.
Hoje, não citarei nenhum dos famosos. Isso afasta todos os que não querem se comprometer e sinto certo desconforto por isso. Mesmo porque, esses caras sabem o que fazer, sempre. Eu tenho meus filhos bem vivos ao meu lado. Se um deles viesse a perecer, com certeza, não suportaria. Isso mostra quanto sou menor que eles. Assim como não estou suportando essa sensação de desprezo, solidão, esquecimento, sei lá o que mais ando sentindo. Todo mundo gosta de ser lembrado e valorizado. Agora pouco, li no Twetter um dos rapagões da moda mencionando mais um convite legal para fazer algo de que ele gosta muito. Putz, que inveja. Não quero o que é dele, mas as tais coisas que me foram reservadas antes mesmo que eu nascesse. Ou será que nada disso procede? Nem a gerente do banco me liga mais. Cansou, coitada.
A hora de resolver as coisas a meu modo já passou há muito tempo. Não dá mais para esperar. Sairei da Gruta em busca de alguma coisa. Será? Não consigo mais olhar as pedras caindo e ficar sentado assistindo esse espetáculo grotesco. Seja lá como Deus quiser. Minha família precisa de mim, meus filhos e o Thomas, em especial, sem falar em mim mesmo. Preciso me ajudar e rápido. Deus deve ter optado por me dar lições de moral quando eu precisava de um pouco do que ele dá aos lírios do campo e às aves do céu. Mas é compreensível, afinal elas não pecam, como eu.
Começo a achar que os pagãos estão certos. Deus deve ser mesmo aquele do Antigo Testamento. Olho por olho. Pequei, agora me ferrei. Jesus deve ter sido algum desses tolos históricos, com sua tentativa quixotesca de salvar gente má como eu e de graça. Ridículo. Vamos ter que pagar a conta, como dizem os verdugos todos os dias: você vai ter que acertar isso, caso contrário… e lá vem um monte de ameaças, inclusive eles costumam cumpri-las.
Assim é a vida na Gruta, ficamos aqui com essa sensação horrorosa de que devíamos estar em um monte de lugares, fazendo um monte de coisas que nunca chegaremos a estar ou fazer. Isso é um inferno. Todos os dias, digo: agora eu vou! Ir para onde? Buscar o que ou quem? Não há nada nem ninguém lá fora, só decepção e desilusão. Quem nos livrará desse corpo de morte? E não se atreva a responder. Pior do que não ligar a mínima seriam as ações motivadas pela pena ou a maldita compaixão. Quero fazer algo por mim mesmo, com minhas mãos e o suor do meu rosto. Só peço que não me impeçam como fizeram comigo aqui em Sorocaba e por motivos fúteis, como grana e algum poder. Sorte deles é que sou um cristão tão ridículo que não sou capaz nem de fazer cair fogo do céu nas cabecinhas deles.
Ah, como eu queria ser um desses idiotas que vivem à luz de qualquer uma dessas teologias ridículas, presentes em nosso meio, ou melhor, sem nenhuma. Seria muito bom. Mas, para mim, não tem mais jeito. Essa doença não tem cura. Sei que entrei em um beco sem saída.
Há coisas que são colocadas em nossas vidas para nos reconduzir ao verdadeiro caminho de nossa Lenda Pessoal. Outras surgem para que possamos aplicar tudo aquilo que aprendemos. E,finalmente,algumas chegam para nos ensinar.
Na gruta (do Lou tambèm), aprendi que não estou só nessa experiência chamada vida. Nessa experiência alguns se recuperam, outros cederam – mas todos nós já experimentamos o roçar dessa experiência trágica.
Essa experiência não tem cura mesmo, mas pelo menos nos livra do mal do século recente: ” Temos resposta para tudo”.
Ah sim, Nelson, concordo. Nós na gruta, sentados entre as estalagtites e estalagmites, somos os “sem resposta”. Tudo o que é óbvio ululante para os outros não é óbvio pra gente.
Eu ainda tô pasma com o vídeo do cara, recordo dos evangelhos Jesus chorando quando soube da morte do amigo Lázaro, Jesus se comovendo com a morte do filho da víuva de Naim, ou seja, Jesus se comportando feito gente. E o cara fala da morte do filho com a maior naturalidade, ou melhor, com afetada naturalidade.
“Vida que segue”. É a pura verdade. Por mais que a gente peça “parem que eu quero descer!”, os dias passam e o coração bate, o pulmão inspira. Já que é pra viver, façamos o que nos for possível, porque o impossível só os “bacanas” conseguem.
Lou, seu papel é manter a chama da fogueira que queima nessa gruta acesa. Uma grande responsabilidade, caso contrário morreríamos de frio na escuridão. Ou simplesmente procuraríamos outro abrigo.
Não existem becos sem saída. Existem becos e eles definem-se por…
Para se criar um beco, teve que se começar por algum lado.
Por vezes há que andar para trás para se voltar ao ponto onde se deveria ter continuado doutro jeito.
Acho bem saires do beco.
Saíres da gruta.
Com a experiência do que viveste dentro dela.
E claro, oferecer e usar a gruta para outros que precisem de abrigo quando estiverem confusos e desgastados.
God bless you,
T.
É, às vezes me sinto assim tbém..apesar de, aparentemente, não ter motivos.
É que muitas pessoas julgam nossas vidas pelo que vêem.
Ta se sentindo assim por quê, o cara? Tu ta bem, tua situação não é das piores, não ta te faltando nada…a família to vendo que tbém vai bem…(mas na realidade ninguém sabe oque se passa por dentro da gente, as angustias que nos consomem muitas vezes, etc)…
Não é preciso dizer que vai passar, pois vc sabe que vai…mas sabe tbém que essa crise vai e volta.
O seu filho está bem???
Não é à toa que eu me sinto tão “humana” aquí na gruta…
Obrigada por não me deixar só.